Quantas vezes já deste por ti a dizer “eu não consigo meditar” ou “eu devo estar a fazer algo errado na minha meditação” ou “meditação não é para mim, eu não consigo” ? Partimos do princípio que temos de chegar a algum lugar ou atingir algum estado logo na primeira ou segunda meditação. Mas não é bem assim…
“Suspeito que muitas pessoas me colocam esta questão porque acham que toda a gente consegue meditar… menos elas. Elas querem ser reasseguradas que não estão sós, que há pelo menos mais algumas pessoas com quem se podem identificar, aquelas pobres almas que nasceram incapazes de meditar. Mas não é assim tão simples…
Pensar que se é incapaz de meditar é equivalente a pensar que se é incapaz de respirar, concentrar ou relaxar. Quase toda a gente consegue respirar facilmente. E nas circunstâncias certas, a maioria das pessoas também se consegue concentrar e relaxar.
As pessoas frequentemente confundem a meditação com o relaxamento ou algum outro estado especial que se tem de atingir. Quando se tenta uma ou duas vezes e de facto não se chega a nenhum estado em especial, então normalmente as pessoas pensam que simplesmente… não conseguem meditar.“
Mas teremos mesmo de sentir alguma coisa ou entrar num estado especial?
[…] meditação não tem que ver com sentir algo em específico. Tem que ver com simplesmente sentir… o que se sente. Não se pretende que esvaziemos a nossa mente, ainda que a tranquilidade que acontece na meditação possa ser cultivada sistematicamente. Acima de tudo, a meditação implica deixarmos a mente ser como ela é, e sabermos algo sobre como ela está em dado momento. Não se pretende que cheguemos a algum sítio em especial, mas apenas permitir-mo-nos estar onde já estamos. Caso não consigamos entender estes argumentos, então pensaremos que somos incapazes de meditar. Mas isso são simplesmente mais pensamentos, e neste caso em específico, pensamentos incorrectos.
Então o que devo fazer? Como devo gerir as minhas expectativas?
É verdade que a meditação requer energia e um compromisso com a nossa prática. Mas então, não seria mais correcto dizermos: “Eu não vou continuar a tentar” em vez de “Eu não consigo”? Qualquer pessoa se consegue sentar e observar a sua respiração ou observar a sua mente. E nem sequer precisamos de estar sentados. Podemos andar, estar simplesmente de pé, deitados, apenas numa perna, a correr ou a tomar banho. Mas permanecer em meditação durante pelo menos 5 minutos requer intencionalidade. Integrar esta prática na nossa vida requer alguma disciplina. Por isso quando as pessoas dizem que não conseguem meditar, aquilo que elas realmente querem dizer é que não planearão tempo para isso, ou que quando tentam, não gostam do que acontece. Não é o que elas esperavam que fosse. Não cumpre as suas expectativas. Por isso talvez pudessem tentar de novo, desta vez deixando cair as suas expectativas e simplesmente estando atentas.”
As respostas são do Jon Kabat-Zinn e estão no livro “Para onde quer que vás, aí estarás”. É um livro bastante interessante sobre meditação e mindfulness e deixo como sugestão de leitura. Jon Kabat-Zinn é um dos ocidentais que mais se dedicou ao estudo e divulgação destas matérias.