Aprofunda a tua prática com este conceito antigo que encontramos no Yoga Sutra de Patañjali – Shtira Sukham Asanam (estabilidade e conforto é asana).
É comum ouvir durante a prática de Yoga o Instrutor dizer que devemos cultivar Sthira – firmeza e Sukham – conforto. Estas duas palavras estão no segundo capítulo, versículo 46 do Yoga Sutra.
“Sthira Sukham Asanam”
YS II, 46
Sthira – firmeza, estabilidade
Sukham – conforto
Asanam – é asana
O sutra afirma que estável e confortável é asana. Muitas vezes isto é explicado como “a posição (asana) deve ser firme e confortável”. Contudo esta explicação não está correta, pois no texto original não há nenhuma referência a posição ou postura. No Yoga Sutra de Patañjali, asana não é uma posição do corpo, asana é um estado do corpo e da mente.
Assim fazer uma posição, ou mover o corpo entre diferentes posições não é asana. Se fosse, qualquer bailarino, ginasta ou acrobata praticaria asana, pois facilmente estão firmes e confortáveis numa posição.
Então o que é que estes dois conceitos querem dizer e como os devemos aplicar na prática?
O que é Sthira?
Sthira vem da raiz “stha” e quer dizer “estar firme, estável, inabalável”. Quando praticamos uma posição ficamos muitas vezes tão preocupados com a forma física que estamos a tentar reproduzir, que a nossa mente perde o foco e a respiração fica irregular. Em suma, ao trabalhar uma postura, não te esqueças de estabilizar a mente e a respiração também.
Sthira não termina quando a prática termina. Procura praticar a a estabilidade da mente ao longo do dia. Por exemplo, foca-te na tarefa que tens em mãos até que ela esteja concluída. E mesmo aqui observa para onde a tua mente divaga e o estado da tua respiração. Observa a tua mente nos momentos difíceis, por exemplo, uma discussão ou uma situação stressante e procura manter a estabilidade da mente e da respiração.
O que é Sukha?
Sukha é comumente traduzido como felicidade, alegria, conforto, etc.. Sukha vai muito além de procurar conforto na posição. Abraçar sukha é aprender a honrar o próprio corpo e promover um senso de autoconsciência. Aceitar que o corpo tem limites, e que esses limites podem variar ao longo das diferentes fazes da vida. Por exemplo, uma lesão pode não impedir a prática, mas pode exigir modificações ao que estamos acostumados a fazer. Um questão anatómica pode nos limitar em determinadas técnicas, e isso não nos deve roubar a alegria de praticar.
O nosso estilo de vida moderno é exigente e faz-nos sentir muitas vezes presos no esforço constante, impulsionado por expectativas sociais e ambições pessoais. O conceito de Sukha ensina-nos a fazer uma pausa, a saborear o momento, a encontrar alegria nas experiências mais simples. Adicionalmente incentiva-nos a libertar do apego aos resultados e fomenta uma atitude de aceitação e gratidão. Um erro comum aos praticantes é uma atitude orientada para a posição perfeita, o alinhamento perfeito, contudo asana é alcançado através da simples harmonia entre corpo e mente.
Num mundo que glorifica a realização e a validação externa, praticar sukha oferece um caminho que enfatiza a realização e o contentamento internos. A felicidade não depende das circunstâncias externas, é um estado que deve ser cultivado a partir de dentro. Devemos por isso, procurar contentamento na prática e fora dela, contentamento em cada tarefa que estamos a fazer.
A vida está cheia de desafios e revezes que muitas vezes nos fazem sair da nossa zona de conforto. Sendo que sukha significa conforto, será que nunca devemos procurar desafios? Devemos pois! O conceito de sukha deve levar-nos a encontrar o caminho equilibrado entre esforço e rendição, força e gentileza. Os desafios são importantes, mas não devem causar dano.
Em conclusão: Estabilidade e conforto é asana. E asana é um estado da mente!