Tiro ao alvo

Conta a lenda que um velho mestre na arte do tiro ao alvo andava preocupado com o comportamento algo arrogante de um dos seus discípulos. Resolveu então chamar o discípulo em questão para uma pequena lição. Pediu ao aluno para mostrar o seu progresso lançando uma flecha num alvo.

O discípulo fez o que o mestre pediu e lançou com grande pontaria a flecha que atingiu o centro do alvo. Depois lançou uma outra flecha que dividiu a anterior ao meio, olhou com superioridade para o mestre e desafiou-o a fazer melhor.

O mestre pediu ao discípulo para o acompanhar numa caminhada. Percorreram juntos um trilho, subiram a uma montanha e chegaram ao topo onde encontraram um tronco a atravessar um grande precipício. O tronco eram uma espécie de ponte precária que ligava a montanha.

O mestre desafiou o aluno para que repetisse o teste em cima daquele tronco. O discípulo a tremer e a transpirar de medo subiu para a ponte e lançou várias flechas, mas nenhuma atingiu o alvo.

A seguir foi o mestre que subiu para o tronco e com precisão lançou várias flechas, e todas elas atingiram o centro do alvo. Depois voltou para ao pé do discípulo e afirmou: “Não basta dominar a técnica em condições ideais, é preciso dominá-la nas situações difíceis. Só crescemos verdadeiramente enquanto seres humanos quando nos pomos à prova.”

O que podemos retirar desta história? Vamos imaginar que acertar o alvo significa não stressar, não sentir medo, não se irritar, enfim manter algum controlo sobre as nossas emoções e ser capaz de manter a capacidade de foco e atenção.

É fácil gerir bem o emocional quando estamos sozinhos de férias, ou quando vivemos numa ilha deserta ou ainda quando passamos uns dias num retiro. Mas e no dia-a-dia, no meio do caos? Nas reuniões de trabalho, nos desafios familiares, nas relações pessoais? É aí que acontece o verdadeiro desafio e crescimento.

É fácil sentirmo-nos bem quando fugimos das relações, fugimos do confronto, largamos o emprego. Mas e quando o desafio voltar, estaremos preparados para ele?

No momento atual é muito comum falar de mudança de vida ou mudança de carreira. Tenho visto muita gente a fazer essa mudança, simplesmente porque não aguenta o stress do trabalho, o chefe, os colegas, etc.. Mas e no novo emprego/profissão não vai haver stress? Não vão existir conflitos ou relações difíceis? Não seria melhor aprendermos a lidar com isso ao invés de fugir?

Tenho visto muito isso no mundo do Yoga. Pessoas que resolvem fazer uma formação de Yoga e tornar-se instrutores, por que acham que vão ter uma vida melhor, mais feliz e menos stressante. Ledo engano!

Primeiro não acredito que alguém vá ser feliz a fazer algo que não goste. É preciso gostar de Yoga para que possa haver alguma realização pessoal na profissão. Depois, achar que não vai haver stress ou relações difíceis no meio do Yoga é outro grande engano! Vale a pena ser Instrutor de Yoga se é isso que queremos e é isso que nos realiza, mas se é apenas uma fuga então não é o melhor caminho. E quem diz Yoga, diz outra coisa qualquer… se é para fugir talvez nos consigamos enganar por algum tempo, mas não a vida toda.

O melhor caminho é sempre aquele que nos leva a enfrentar os nossos desafios. Temos dificuldade em gerir o stress, então vamos trabalhar isso. Temos dificuldade no relacionamento com o outro, então vamos tentar perceber como podemos melhorar. Não nos conseguimos concentrar, vamos treinar concentração! A prática trará resultados.