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Ahimsá – O Yoga e o princípio da não violência

“(…)Busco neutralizar completamente a espada do tirano, não a trocando por um aço melhor, mas iludindo a sua expectativa de encontrar em mim uma resistência física. Ele encontrará em mim uma resistência de alma que escapará à sua força. Tal resistência o deslumbrará e o obrigará a inclinar-se. E o fato de inclinar-se não humilhará o agressor, mas o enaltecerá. Podemos dizer que isto serio o estado ideal. E o é!”

Mahatma Gandhi em Cartas ao ashram

Ahimsá talvez seja o yama mais conhecido e isso deve-se certamente a Gandhi que o popularizou com a sua opção de não entrar em conflito bélico com os britânicos para obter a independência da Índia. Ahimsá é sinónimo de não-violência e vai muito além da mera agressão física, do não ferir ou não matar.

Em primeiro lugar devemos aprender a ser não violentos para connosco. Para tal é importante observar o nosso diálogo interno, pois os pensamentos e julgamentos que fazemos a nós próprios são muitas vezes rudes, inúteis e destrutivos. Por exemplo, quando olhamos o nosso corpo no espelho pela manhã, quando falhamos um prazo no trabalho, ou quando nos comparamos com alguém nas redes sociais, muitas vezes fazemos críticas cruéis e violentas à nossa pessoa. Qualquer palavra, sentimento ou ação que nos (ou a outra pessoa) impede de viver e crescer livremente fere ahimsá.

Comer em excesso, consumir substâncias prejudiciais, défice de descanso, enfim tudo o que prejudique a nossa saúde e bem estar, constitui inobservância de ahimsá.

Quando vamos para o tapete de Yoga, devemos ter ahimsá em mente. É importante conhecermos os limites do nosso corpo, não ir além deles, não causar lesão. As lesões levam tempo a sarar, e muitas vezes obrigam-nos a parar a prática e a deixar de usufruir dos benefícios do ásana. O desconforto físico é também um fator de distração, perturba a mente e não nos permite manter os pratyahara e dharana.

Quando nos damos conta da agressividade, do excesso de crítica e negatividade que colocamos sobre nós, torna-se mais fácil perceber que também o fazemos com os outros. Desde a palavra mais agressiva no trânsito, ao desejo de ver o outro punido, passando pela fofoca e intriga, tudo isso são formas de violência. Qualquer pensamento, desejo ou atitude mental negativa para com o outro polui o nosso espaço interno.

Cultivar um comportamento sem violência não significa que vamos deixar de sentir ódio, raiva ou ciúme. Aprender a viver com compaixão exige que olhemos para esses aspetos do nosso eu com aceitação. Paradoxalmente, quando aceitamos os nossos sentimentos de raiva, ódio ou ciúme em vez de os vermos como sinais do nosso fracasso, podemos começar a entender as suas causas. Debaixo desses sentimentos descobrimos um sentimento muito mais intenso e que todos nós compartilhamos – ser amados. É impossível chegar a esse entendimento mais profundo se ignorarmos o trabalho duro de enfrentar os nossos demónios interiores.

Além de nós e do outro, devemos pensar nos demais seres. O lixo que produzimos, o consumo excessivo, a poluição, etc., são formas de agressão e destruição do nosso próprio planeta. Quando começamos a reconhecer que os rios da terra não são diferentes do sangue que nos corre nas veias, ou quando percebemos que a dor de um animal não é diferente da nossa dor, torna-se difícil ser indiferente ao sofrimento do mundo. O veganismo é uma forma de ahimsá que se vai tornando cada vez mais popular, vale aqui ressalvar que aquele que se torna vegano e insulta quem não o faz está a incumprir este preceito ético.

Uma dica para começares a praticar: durante a próxima semana observa a violência presente na tua vida, seja ela qual for. Anota todas as situações que de uma forma ou de outra achas que atrapalharam a disciplina de ahimsá. No final da semana escolhe a que sentes ser mais fácil de mudar e dedica-te a a ela durante os próximos tempos.

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Várias artes marciais surgiram da necessidade de defesa sem uso de violência. É o caso do Karaté.

Conta a lenda que o Monge Bôddhi Dharma tinha como missão levar o Hinduísmo para a China. Ele queria fazer a viagem sem proteção militar, pois considerava que o uso de armas ia contra o princípio da não violência, mas foi informado que seria suicídio pois nas estradas havia ladrões. O Monge entrou num conflito interior: queria cumprir o seu dever, mas não queria morrer nas mãos dos ladrões das montanhas. Resolveu meditar em frente a uma estátua de Shiva e lá permaneceu por muito tempo até que a estátua começa a dançar, o Monge dançou com ela e assim aprendeu a defender-se com movimentos de defesa subtis mas eficazes. Quando se sentiu pronto para a viagem, foi e chegou intacto. As pessoas perguntaram como tinha conseguido tal proeza e ele respondeu: com as minhas mãos vazias! Assim surgiu o Karaté que significa o caminho das mãos vazias.