Chegamos ao último niyama – Íshwara pranidhana, a entrega à vida. Relembro que niyama pode ser entendido como “regra de vida”, “observância” ou “disciplina”. Os niyamas devem reger as atitudes do praticante em relação a si mesmo. Já falamos sobre santosha, tapas, swadhyaya e sauchan. Hoje é a vez de Íshwara pranidhana.
Íshwara pranidhana, pode ter vários significados conforme o contexto. Podemos traduzir como “entrega à vida”, “autoentrega”, “renunciar aos frutos da ação”. Numa visão mais religiosa é tido como “entrega ao senhor” ou o popular “seja o que Deus quiser”.
Praticar Íshwara pranidhana significa entregar os resultados das nossas ações. Como yogins devemos dar o nosso melhor em tudo o que fazemos, e aceitar o que daí vier. Significa que temos de atuar de acordo com todos os outros yamas e niyamas, pois esta é a parte que podemos controlar. E depois aceitar os resultados com desapego.
Um antiga lenda conta que um mestre e seu discípulo viajavam pelo deserto. À noite, o discípulo ficou responsável por amarrar os camelos, mas em vez disso resolveu rezar, pedindo a Deus que guardasse os camelos. De manhã os camelos tinham desaparecido e o mestre perguntou “O que aconteceu? Porque não prendeste os camelos?” e o discípulo respondeu “Eu rezei e pedi a Deus que os guardasse”. O mestre respondeu “Confia em Deus mas amarra os camelos primeiro”. Íshwara pranidhana não significa ser passivo e esperar que as coisas aconteçam, mas sim agir, dar o nosso melhor, fazer a nossa parte. E depois aceitar o que daí vier.
Podemos comparar a prática dos nyamas com a jardinagem. Com sauchan limpamos e preparamos a terra, com santocha agradecemos pelo sol, chuva ou vento, com tapas eliminamos as ervas daninhas que insistem em aparecer e com swadhyaya aprendemos mais sobre como tornar o solo fértil e sobre o que deve ser plantado a cada estação. No final vem Íshwara pranidhana, aceitamos a colheita. Conscientes de que nem todas as sementes que colocamos na terra vão germinar, ou seja, não podemos controlar tudo. É esta a entrega à vida que devemos procurar, quer seja no trabalho, estudos, ou relacionamentos. Confiar no processo da existência para nos podermos entregar sem medos e sem receios.
Quando praticamos em cima do nosso tapete, não devemos estar presos a qualquer expectativa ou a qualquer resultado. Devemos entregar-nos a todo o processo da nossa prática. Se nos conseguirmos entregar, a nossa prática desenvolver-se-á naturalmente sem esforço e sem ego.