Asteya é o terceiro dos cinco yamas dos Yoga Sutras de Pátañjali. Já falamos do primeiro yama ahimsá e também do segundo satya.
Asteya significa não roubar, não cobiçar ou invejar bens, conquistas ou ideias de outrem. Segundo Vyása: “Steya significa apropriar-se de coisas pertencentes a outrem. Asteya é a abstenção dessa tendência, mesmo que em pensamento”:
Asteya decorre do entendimento de que por trás de toda a apropriação indevida está um sentimento de falta. Este sentimento provém da crença de que a nossa felicidade depende de bens materiais e circunstâncias externas. Nos países ocidentais é muito comum as pessoas gastarem o seu tempo à espera do que acham ser uma vida melhor. “Vou ser feliz quando comprar um carro novo”, “Vou me sentir muito melhor quando fizer uma grande viagem”, “Quando mudar de emprego é que vai ser”, “Aquela roupa nova vai trazer-me toda a felicidade”, quem nunca pronunciou mentalmente uma frase deste género?
Esta contínua busca por satisfação fora de nós mesmos faz com que nos seja difícil apreciar a abundância que já temos. Dar valor à saúde, à riqueza da nossa vida interior, à capacidade de darmos e recebermos alegria e amor, é muito importante. Perceber que temos água quente corrente, comida mais que suficiente no frigorífico e mais roupa do que aquela que verdadeiramente precisamos, é essencial para a prática de asteya. No fundo, significa cultivar a gratidão pelo que já temos. Quando te vires preso em pensamentos do tipo “não possuo x para ser feliz”, pergunta “Como é que esta atitude me está a impedir de apreciar o que já tenho?”. Todos os dias antes de ir dormir faz o bom e velho exercício da gratidão, agradece algo que tenhas na tua vida, pode ser o amor de uma pessoa, o carinho de uma animal de estimação, o prazer de ter um terraço ou jardim, a saúde, ou a comida na mesa.
O paradoxo da prática de asteya é que quando nos relacionamos com o mundo sob o ponto de vista da abundância em vez de carência, começamos a sentir que os outros são mais generosos connosco e que a vida também o é. Exercitar asteya não é simplesmente não roubar ou não cobiçar o que é do outro, mas principalmente compreender porque desejamos o que desejamos. Quando nos damos conta que o que desejamos não é assim tão importante e que já somos tudo o que procuramos o desejo pelos bens ou pelo outro enfraquece.
A prática de asteya pede que tomemos o cuidado de não tomar nada que não nos tenha sido dado livremente. Pode ser tão subtil como perguntar ao outro se tem tempo para o nosso telefonema, se tem tempo para uma pergunta que lhe queremos fazer. Não roubar o tempo ou a atenção dos outros é praticar asteya. Também é importante estar alerta para não copiar os outros, não querer constantemente o que o outro tem. Neste novo mundo das redes sociais é muito comum a cópia. Pode ser a cópia de um texto que outra pessoa partilhou e aí estamos a plagiar, mas muitas vezes estamos também a copiar as vidas que nos passam no ecrã. Queremos preencher o nosso vazio com a mesma roupa, o jantar no mesmo restaurante, o mesmo estilo de vida, e sem nos darmos conta estamos a estimular o sentimento de falta em vez da abundância.
No domínio físico praticar asteya implica não roubar objetos, dinheiro ou um lugar de estacionamento. Quebrar o hábito de roubar a toalha do hotel só porque fazemos coleção, não passar à frente nas filas, não adquirir software, música ou filmes pirateados, etc.
Na prática de Yoga, asteya siginifica manter a atenção continuamente na prática. Se roubamos a nós mesmos a possibilidade de estar no momento nunca vamos ter a possibilidade de experimentar as consequências de praticar Yoga. Quando estamos a praticar ásana devemos ter o cuidado de não querer queimar etapas para conquistar a técnica a todo o custo pois isso poderá causar lesões.